Enviada especial à Cidade do MéxicoCom acordos de livre comércio com 32 países, entre eles os Estados Unidos e os membros da União Européia, e em negociações com o Brasil e o Japão, o México é um dos entusiastas da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). A aposta no livre comércio para sustentar o crescimento, com base em investimentos externos e ampliação de exportações, mudou o perfil do México.
O país tornou-se o sétimo maior exportador mundial e o primeiro da América Latina. Mas, apesar de o governo afirmar que a economia mexicana tem se mantido imune aos problemas da economia mundial, o nível de investimentos diretos externos em 2003 deve registrar queda pelo segundo ano consecutivo. Também deverá ser menor do que as remessas de dinheiro de imigrantes mexicanos nos Estados Unidos.
Promoção
"Promovemos a Alca porque ela funcionou para o México", defende o coodenador-geral de negociações da Alca do Ministério da Economia mexicano, Fernando de Mateo, referindo-se ao Nafta - o tratado de livre comércio da América do Norte, entre México, Estados Unidos e Canadá.
Mesmo os críticos da cartilha governamental seguida desde o início dos anos 80 admitem que a proximidade com os Estados Unidos deve ser usada para atrair investimentos e admitem a necessidade de um tratado de comércio com o governo americano. O problema, na opinião do professor da faculdade de economia da Universidade Autônoma da Cidade do México, Clemente Ruíz-Duran, é a forma como o Nafta foi criado.
"Há falhas tanto na estrutura do tratado - porque se devia ter contemplado alguma proteção para os pequenos produtores e as pequenas empresas mexicanas - como na estrutura de política de governo", afirma.
Saldo do Nafta
Quase dez anos depois de ter entrado em vigor, pouco antes da pior crise econômica enfrentada pelo México, em 1994, o Nafta foi o responsável pelo boom no fluxo de investimentos externos para o país. Mas o nível de investimentos vem caindo desde 2001 e, segundo Ruíz-Duran, deve se estabilizar em torno de US$ 10 bilhões. Ele responsabiliza a desaceleração da economia americana e o desvio de investimentos para a China por essa redução.
Para Duran, a promessa de criação de empregos com o Nafta não se cumpriu na escala necessária, a imigração em busca de emprego e melhores salários continuou e "as remessas devem chegar a US$ 12 bilhões este ano, mais do que os investimentos estrangeiros no país".
Críticas
Os investimentos diretos estrangeiros se concentraram na abertura de empresas voltadas para o mercado americano. As chamadas empresas maquiadoras, apelidadas de maquilas no país, importam a maior parte de seus insumos de outras partes do mundo, usam a mão-de-obra barata mexicana para montar carros, televisões, roupas e computadores e exportam o produto final.
As maquiadoras, responsáveis por 40% das exportações mexicanas, se concentram na fronteira com os Estados Unidos e, de 1994 a 2002, utilizaram, em média, 2,96% de produtos mexicanos em sua produção, a maior parte foram embalagens. Incluindo a mão-de-obra, a participação mexicana no produto final passa para18%, de acordo com dados da Frente Mexicana de Ação Frente ao Livre Comércio.
"As exportações passaram de US$ 20 bilhões para US$ 160 bi. As exportações se multiplicaram por oito e as importações por nove. Criamos uma ilha em que importamos as coisas, colocamos um pouquinho de valor agregado no México e as exportamos", avalia Ruíz-Duran, para quem "desgraçadamente não houve vinculação entre o setor exportador que criamos com o tratado de livre comércio e o mercado interno . Não se utiliza a capacidade das empresas mexicanas para poder fortalecer ao setor exportador".
Apesar de ter passado de produtor de matérias-primas (em 1980 o petróleo era responsável por 80% das exportações mexicanas) a exportador de manufaturados (que em 2003 representam 90% das exportações), o Nafta teria falhado em proteger a indústria nacional, dizem os críticos.
Made in Mexico
"Para poder beneficiar-se do tratado com os EUA, as exportações não precisam ter nenhum conteúdo mexicano. Não há interesse em buscar provedores nacionais. O verdadeiro interesse dessas empresas é integrar-se dentro da produção global delas mesmas, trazendo a produção que elas já têm em outras partes do mundo, para incorporá-los a seus produtos e exportá-los daqui para os Estados Unidos", ataca Arroyo.
"Também não há requisitos de desempenho da produção estrangeira e nem exigência de que eles comprem aqui parte de sua produção", afirma. "Aproximadamente 40% dos empregos estão em pequenos negócios, que são a base produtiva da pobreza no México", complementa Ruíz-Duran. Fernando de Mateo sustenta que o problema não foi a negociação do Nafta e nem a posição do governo que o negociou.
"Vincular conteúdo nacional está proibido pela OMC (Organização Mundial do Comércio), não pelo Nafta. Durante a Rodada Uruguai (que precedeu a atual rodada de liberalização do comércio) se acordou que não se pode obrigar integração vertical de empresas", rebate.
Salários e competição
Para o negociador do governo Fox, o livre comércio "não vai solucionar todos os problemas do país. É um instrumento que permite redirecionar os recursos de forma que os excassos recursos que se têm na economia sejam utilizados de uma maneira melhor".
O comércio, segundo Mateo, ajuda na produtividade e na criação de empregos. "Metade dos empregos criados nos últimos anos foram gerados nas empresas exportadoras, que pagam melhores salários", argumenta. Pelo menos 1,2 milhão de empregos foram gerados a partir da criação do Nafta, mas o desemprego ainda é de 4% no México e os salários continuam baixos, estimulando a imigração.
O governo mexicano, apesar de ser a favor da Alca já em 2005, se uniu ao Brasil, Índia e China no G-21, que apresentou uma proposta própria para um acordo de agricultura na OMC, colocando em prática a promessa dos países desenvolvidos em desmontar esquemas de apoio interno e de subsídios à exportação agrícola. Isso seria um primeiro sinal de mudanças na estratégia mexicana de negociação na Alca? Segundo Fernando de Mateo, não.
"Acreditamos que é necessário eliminar os subsídios à exportação e organizar o mercado mundial agrícola. Se estamos no G-21 é precisamente por isso. Não tem nada que ver com nosso desejo de liberalizar o comércio. Somos pela liberalização multilateral, na OMC e também regional, na Alca".
A respeito do aumento da competição e da perda das vantagens que tem no mercado americano, o governo mexicano não estaria preocupado, "porque isso será um problema a longo prazo. Saímos na frente e já temos mercados conquistados", afirma Mateo.